segunda-feira, 11 de julho de 2016

A Efemeridade do Amor na época das Mídias Sociais

[Oriundo de um comentário de facebook]

Link do texto comentado: https://trendr.com.br/a-triste-gera%C3%A7%C3%A3o-que-est%C3%A1-sendo-convencida-de-que-n%C3%A3o-sabe-amar-391eafb10e02#.xw7fepe7a




Passamos por uma era de retorno ao hedonismo e ao relativismo, no qual a razão é desprezada, especialmente sob a alcunha dos (verdadeiros) intelectuais e dos filósofos atuais.
Procura-se frases fáceis e convenientes a baixo custo, que demandem mínima reflexão ou um mínimo de concordância - intolerada, em doses espessas, pela classe média arrogante e pretensiosa que só recentemente atinge o poder ensejado sobre o conhecimento.

Na Grécia Antiga, esse conhecimento (raso e superficial) era vendido caro pelos sofistas, em função da baixa intelectualidade provocada pela noção de destino ('cada um deve exercer aquilo que lhe é impelido e nada mais').
Os políticos e os retóricos estavam entre os maiores compradores desse conhecimento altamente subversivo e inconfiável.

Atualmente muitos publicitários vendem aquele mesmo conhecimento (raso e superficial), não simplesmente por demanda de mercado, mas por preguiça (má vontade com o mundo) e egoísmo ("os meus restos são ouro para o mundo") em função de fator acumulativo do capital.
Conhecimento aprofundado entra nessa categoria, o que se constata nos preços de livros universitários comparados aos de autoajuda e de literatura estrangeira popular.

Os compradores são universitários e profissionais menos bem sucedidos, os quais passam a se acreditar livres ou reafirmados. Na verdade, eles não se percebem livres DEMAIS, como estão:
Seus relacionamentos são frágeis e instáveis; suas personas mergulhadas em melancolia se disfarçam por trás de sorrisos amarelados, porque o creme dental não funciona mais. A música "Time to pretend" (MGMT) reflete bem esse processo.



Quando ocorre a transgressão (agressão ou violência) de uma das partes naquele relacionamento, não tentam lidar com a situação: não perdoam, não ressaltam os seus amores, nem lutam para manter a relação.
Fecham-se em si mesmos, encasulados por nunca terem amado aquela pessoa e viverem um relacionamento de conveniência. Não amam realmente, apenas se apaixonaram e a paixão se esgotou.

A liberdade se limita ao fugaz e efêmero imediatismo; e à homogênea e concessiva noção de identificação.
Os relacionamentos tem baixa durabilidade e alto nível de descarte (e substituição), porque as pessoas "respeitam" a diferença como uma maneira de não lidar com essa diferença - buscam somente o melhor ponto de conforto.
O olhar é sempre distanciado, até invejoso, enquanto cada novo(a) parceiro(a) reflete um status publicitário através do facebook e demais mídias sociais entre os vizinhos, entre os amigos, entre os parentes.
Aqueles que mentem para o status quo e adentram uma jornada a propósito de seus verdadeiros desejos são taxados de mentirosos e traiçoeiros.

Quando o desejo se manifesta pelo "queer" (o estranho), o sujeito é taxado como um alienígena a ser combatido naquela sociedade.
Entretanto, vivemos um anômalo tempo em que o "queer" se solidificou como identidade. Essa identidade demanda transições cada vez mais bruscas e finalistas com os vínculos tradicionais de afeto.
Ao invés de transições suaves e autodescobertas importantes, encontramos LGBTs tirânicos cujas atitudes invadem a moral do indivíduo dúbio, impedindo-o de formar sua própria ética, especialmente quando se trata de um homem:
O LGBT do armário é hostilizado e perseguido, fechando-se em si mesmo e tornando-se apenas uma casca do seu verdadeiro ser, que vai se tornando cada vez mais vazio. Um alter-ego simbólico, mas desmotivado ou sem finalidade.



O indeciso é marginalizado por ambos os lados (heteronormativos e LGBTs) que não aceitam a dúvida em si, somente suas representações mais limitadas: a dúvida sobre o(a) próximo(a) parceiro(a) do sexo oposto (hetero) ou a dubiedade do queer (LGBT).
Esses lados também mentem ao propor que objetivam diferentes experimentações e relacionamentos diversos, porque, na verdade, anseiam por aquele ideal romântico e douradouro, manipulando os mais incautos e inexperientes nas buscas pessoais dos primeiros.

Se a lógica heteronormativa perdoa o homem (branco, eurocêntrico e cis-hetero) como um sujeito em busca de seus valores entre erros e acertos e condena a mulher como um objeto de pecado e luxúria, a lógica ativista geralmente inverte os sujeitos (homem e mulher), acrescentando as "minorias" étnicas, os LGBTs e as crianças/menores de idade no eixo positivo. O 'homem' traidor é tratado como o maior dos males e sempre relembrado por seu crime/pecado/erro. Ele é desumanizado da mesma maneira que os criminosos são por justiceiros, policiais corruptos e apologistas ao justiçamento. É um hipocrisia entre esses ativismos a ser repensada.

Lembrando as sabatinas e entrevistas de Leandro Karnal, o ódio aglomera mais movimentos e coalisões do que a paixão e o amor, em ordem decrescente. O amor líquido (Bauman) e o amor confluente (Giddens) não passam de representações da paixão, enquanto os amores platônico e romântico representam com mais fidelidade aquele conceito estável, "eterno" e até divino.
Ambas lógicas cis-hetero e LGBT se caracterizam por algum tipo de ódio manifesto e desviam o foco do amor à paixão e ao ódio, os quais aglomeram deveras mais comentaristas e curtidas. Sobre a paixão, creio ser mais química e fisiológica, enquanto o amor é transcedental, racional e autoreflexivo.
Infelizmente vivemos tempos de orgulho do ódio, por vezes travestido de combate ao ódio, e também de ode às paixões mal refletidas, disfarçadas sob o amor "livre" e a opção de amar. O problema é: quem realmente tem essa opção?



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